People are landscapes
Digital. 2025
Text by Ana Amaro
“If we opened people up, we’d find landscapes. If we opened me up, we’d find beaches...Memory is like sand in my hand. I keep some and some is going.” Agnès Varda
Se abríssemos as pessoas, iríamos encontrar paisagens, disse a Agnès Varda. Mas se olharmos com atenção, as paisagens estão tanto no interior como no exterior.
As emoções, as ações, as reações, todas em contraste com a natureza e contudo réplicas que nos permitem a metáfora… O balançar do mar numas mãos que pegam e largam. A chegada das flores campestres num coração que acalma. A planície árida quando a solidão engole. A erupção vulcânica quando o êxtase acolhe.
Podemos contar estrelas nos corpos uns dos outros e chegar à conclusão de que existem novas a brilhar e outras desapareceram. Podemos ver como o sol queimou e marcou o terreno das nossas faces, de forma diferente em cada lado. Como o sal das lágrimas correu pelos canais das rugas dos nossos olhos. Vemos estrias, rubras e rugosas, que denunciam crescimento, transformação e fertilidade. Podemos entender os medos e as alegrias mais profundos de alguém se nos focarmos bastante na sua íris e pupila.
As nossas cicatrizes contam as catástrofes que nos atingiram e como recuperámos delas. E podemos refletir acerca destas histórias: foi uma tragédia ou uma comédia? Podemos ver que foi um longo e difícil Inverno apenas ao observarmos as texturas e formas das mãos. Ou um radioso Verão em que os corpos se moviam em ondulações exageradas e despreocupadas.
Depois há o cuidado e o embelezamento que fazem a paisagem ser menos natural mas de alguma forma mais habitável, conforme os tempos, conforme as gerações. Tudo muda, perde fôlego, regenera. Tudo muda. Como nas estações do ano. E que sortudos somos em ter a chance de observar o tempo a passar noutro ser humano.
As pessoas são paisagens.